quarta-feira, 25 de novembro de 2009

De um extremo a outro

"O que passou, Passou?

Antigamente, se morria.
1907, digamos, aquilo sim
é que era morrer.
Morria gente todo dia,
e morria com muito prazer,
já que todo mundo sabia
que o Juízo, afinal, viria,
e todo mundo ia renascer.
Morria-se praticamente de tudo.
de doença, de parto, de tosse.
E ainda se morria de amor,
como se amar morte fosse.
Pra morrer, bastava um susto,
um lenço no vento, um suspiro e pronto,
lá se ia nosso defunto
para a terra dos pés juntos.
Dia de anos, casamento, batizado,
morrer era tipo uma festa,
uma das coisas da vida,
como ser ou não ser convidado.
O escândalo era de praxe.
Mas os danos eram pequenos.
Descansou. Partiu, Deus o tenha.
Sempre alguém tinha uma frase
que deixava aquilo mais ou menos.

Tinha coisas que matavam na certa.
Pepino com leite, vento encanado,
praga de velha e amor mal curado.
Tinha coisas que tem que morrer,
tinha coisas que tem que matar.
a honra, a terra e o sangue
mudou muita gente praquele lugar.
Que mais podia um velho fazer,
nos idos de 1916,
a não ser pegar pneumonia,
deixar tudo para os filhos
e virar fotografia?
Ninguém vivia para sempre.
Afinal, a vida é um upa.
Não deu pra ir mais além.
Mas ninguém tem culpa.
Quem mandou não ser devoto
de Santo Inácio de Acapulco,
Menino Jesus de Praga?
O diabo anda solto.
Aqui se faz, aqui se paga.
Almoço e fez a barba,
tomou banho e foi no vento.
Não tem o que reclamar.
Agora, vamos ao testamento.
Hoje, a morte está difícil.
Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
Agora, a morte tem limites.
E, em caso de necessidade,
a ciência da eternidade
inventou a criônica.
Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica."
PauloLeminski.

"Sei que vou morrer, mas não sei a hora... sentirei saudades da Aurora. Sei que vou morrer, mas não sei o dia, sentirei saudades da Maria.... - Quando eu morrer, não quero choro nem vela, quero uma fita amarela, bordada com o nome dela..."
Apesar do sucesso do dia de hoje, alta produtividade e alegria (meio bucólica denovo), pensei nisso a maior parte do dia. Quando eu abri o livro do Leminski, o primeiro poema que olhei foi "Parada Cardíaca"... Taí uma série de coincidências que eu não quero nem saber. Mas... que dá uma cutucada, isso dá.
O que me lembra que eu não ia escrever sobre isso. Mas fui obrigado. Esse poema sobre a morte ali em cima, é um dos meus preferidos. Tipo, fala sério. Chega a ser bucólico hahaha
Semana de poesias, dá pra notar, mas pensando bem não dá não, porque é muito cedo ainda pra captar um estilo de escrita. Mais pra frente saberemos do que eu estou falando. (Inclusive eu).
De qualquer forma, pra ficar marcado, registrado e escrito, posto o link da estupenda palestra realizada hoje, sob nossa regência.
www.qik.com/futuromidiadigital
O título da postagem me fez pensar que de um extremo ao outro
não quer dizer praticamente nada. Quantos extremos mais
estamos deixando de lado nesse colóquio portuguesal?
Hoje foi coisa nervosa, tensa, de dormir pouco, pra alegria, extásica quase, pro vazio que eu busco (um dia explico do que se trata), pra depois passar a tarde entre cantar músicas que falam de morte, morrer, suicídio. Parece carta de suicídio.
...
No caso de passar por alguma cabeça a palavra "premonição", ou algo que o valha,
por favor, va tomar no cú. Agradeço.
hihi.


Máu-ri, como sempre.

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